Everything can change

Ficar andando no castelo, de noite, quando ele parece maior e mas assustador, não é legal. Fora as horas de sono que não tinha. Pois é, insônia é meu sobrenome. A noite eu ficava com mais fome, mas, afinal, quando não estou com fome? Motivos não me faltavam, mas aquela ocasião era especial: eu não comera nada naquele dia inteiro. Por que? Porque eu odiava sentar naquele enorme salão e conviver com a maioria daqueles bruxos tão insuportáveis. Tinha certeza de que todos os elfos, duendes ou sei lá o quê, da cozinha, já conheciam minha cara. E sabiam que eu gostava de alguns sanduíches com um bom copão de suco de laranja.

Os dias em Durms estavam calmos, tudo tão monótono que chegava dava sono. Estava completamente coberta por um moletom verde escuro que peguei de um dos garotos na comunal, alguns eram até legais quando não viam que eu malocava as roupas deles. Dei um grande suspiro de alívio quando cheguei a cozinha e não havia ninguém pelo local, sei lá, vai que se fique cheio isso aborreça os elfos, geralmente eles são sorridentes, e fazem as coisas de bom grado, mas não é bom abusar da hospitalidade. - Hey Meg, me prepara um daqueles sanduíches? - Ok, era a elfa mais adorável do mundo, e só ela conseguia fazer o que eu gostava. Tirando minha mãe, que na verdade eu nem sequer via a séculos... Isso que dá ser filha de uma... Como que é o nome mesmo? Uma ministra do sei lá o quê lá em Londres. Pois é, eu não morava com ela, e por isso passava mais meus dias no castelo.

Enfim, tanto faz. Era de se esperar que ela não aparecesse mesmo. Dei de ombros enquanto sentava em uma mesinha para esperar Meg trazer meu lanche noturno. Me pergunto se eles nunca param, pelo visto não. Acho que irei criar um abaixo assinado para uma pausa aos elfos: "digam não a ditadura, elfos livres de gordura". Ta, isso não daria certo de forma alguma, mas vai que cola né. Meus pés se mexiam descompassadamente, estava com tanta fome que não conseguia parar quieta. 

Everything can change

Ajeitei as mangas do moletom, puxando para tapar as mãos. Não que estivesse muito frio, mas era algo típico quando eu estava inquieta. Meneei a cabeça, olhando para Meg que estava demorando demais com meu lanche já. Tamborilei os dedos na mesa a minha frente, pensando bem, não lembara de quando havia visto meus parentes pela ultima vez. Minha mãe já era de se esperar, mas minhas primas bem que poderiam me visitar. Dei de ombros, depois de minha briga - bem feia por sinal - com uma delas, as outras acabaram se afastando. Whatever!

Retirei o elástico de cabelo do meu pulso, prendendo meus cachos desgrenhados em um coque frouxo. Meus olhos se iluminavam por uma maquiagem preta contrastante. Ok, era o meu jeito mais agradável de ser. Minha elfa preferida trouxe-me alguns sanduíches, suco de laranja e até cupcakes, por isso a bichinha estava demorando, fez mais do que eu pedi. Joguei um beijo no ar pra elfa, conseguia ser mais simpática com ela do que com qualquer outro ser de Drugs.

Dei uma mordida em um dos sanduíches, de presunto, hummm delícia. Estava realmente muito bom, mordisquei um pouco mais o sanduíche até... "Boa noite!" Uma voz um tanto grossa se fez ouvir no lugar fechado. - Ai! - Pulei no banco, assustada. Pensava estar sozinha, pelo visto não sou só eu que tenho hábito de comer a noite. - Ér, oi, o que faz por aqui? - Suspeitava ter visto ele em algum momento, estreitei o olhar. Minha voz soou ríspida demais, começou você Pandora a criar inimizades com esse teu jeito. Olhei pro menino ao meu lado, sorri dando de ombros. - Quer um pedaço? - Ofereci meu sanduíche. Tentando ser o mais simpática possível.

Everything can change

Meio que do nada Meg, a elfa, tinha sumido. Achei estranho, ela nunca me deixava sozinha. Talvez seja pelo fato daquele menino estar ali, vou matar essa elfa por me deixar aqui sozinha com ele. Vai saber se ele não é um maníaco comedor de sanduíches. Ri comigo mesma com os pensamento completamente bestas. Endireitei meu corpo na cadeira, meus cabelos passaram a cair alguns fios, o que me deixava parecendo uma boneca, não que eu não gostasse. Mas era meigo até demais.

Sorri para o garoto a minha frente, ele tinha um sorriso bobo em seus lábios, o que me deixou incrivelmente tímida. - Não, não incomoda. Estamos aqui com o mesmo propósito né, hábitos noturnos que nos fazem comer escondido dos monitores. - Disse rindo para descontrair. Ok, você está indo longe demais Pandora, não seja assim tão mole. Hábito tão normal quanto ser sincera, fala demais e no final das contas acabava sempre sozinha.

Deixei o sanduíche de lado, bebericando o suco de laranja a minha frente. Dei de ombros quando ele não aceitou o sanduíche. "Cortar da lista: ele não é um maníaco comedor de sanduíche." O vi se afastar do mesmo modo que perguntava algo. Afastei um pouco o prato e o copo da mesa, e sentei em cima dela com as pernas cruzadas, olhando para o menino que estava de costas para mim. - Sei lá, só estava precisando caminhar um pouco, e sem dúvida prefiro fazer isso a noite, durante o dia tem muita gente andando pelo castelo. - Respirei fundo, admito, não era lá muito sociável, mas sabia manter uma boa conversa, ou pelo menos acho. - Então... Qual seu nome? De que casa que é? Sério, eu devo ter te visto já pelo castelo, sua fisionomia não se é de esquecer. - Não consegui conter as palavras que saíram sem ao menos sentir. Sorri, encabulada quando ele se virou na ultima frase que eu disse. Olhei para os lados tentando disfarçar. Tarde demais Pandora.

Everything can change

Já disse que a noite está linda? Da fresta da janela um céu salpicado de estrelas e uma lua iluminando tudo lá fora, inclusive iluminava um lado da cozinha que estava escuro. E aquilo me deixa com borboletas no estomago, era um clima perfeito. Perfeito pra tudo. Sofrer de insônia tem um bando de desvantagens, mas uma hora ou outra acaba encontrando algumas - poucas - vantagens, como agora, tinha a oportunidade de comer à vontade na cozinha, sem ser perturbada pelas mocinhas da Wasser do tipo “não me toque”.

Suspirei com um risinho quando o elogio veio atona, não que aquilo fosse mexer comigo de uma forma inesperada. Imagina, nem estava me deixando cambulada um simples elogio. Enquanto o menino estava procurando ainda algo pra comer, remexi os sanduíches que estava ali a minha frente, puxando um pedaço de presunto do meio dele para come-lo. Christopher se aproximou, sentando-se a minha frente e se apresentando. Christopher... nome não me é estranho. Era isso, sabia que já tinha visto ele, eramos da mesma casa. - Pandora L'Angelier, e por incrível que pareça, somos da mesma casa. Haus Luft.

Sorri, dando de ombros. Não esperava o fato de ser reconhecida pelos outros, mesmo que meu olhos azuis claros se destacassem entre os demais. Sei lá, era melhor tentar passar desapercebida pelos lugares do que ser apontada depois de fazer uma besteira. E se tem uma coisa que eu sempre faço é besteira, acho que é até meu segundo nome oculto. Ri comigo mesma. Desfiz as pernas cruzadas, jogando-as para fora da mesa, deixando pender ao lado esquerdo em que o menino estava sentado. - Mas então, me conta um pouco sobre você. - Disse tentando puxar assunto. Arquei a sobrancelha esquerda ao notar a bebida que o menino trouce para perto, apanhei o copo de sua mão, tomando em um gole só o liquido que continha ali. Sorri, notando o espanto do menino, colocando o copo na mesa fazendo um som estalado.

Everything can change

É tão estranho falar em voz alta o nome da minha casa, não que eu tivesse algo contra a casa, mas eu particularmente esperava ter caído em Haus Land, but a espada doida me colocou na Luft, não que fosse um problema. Ambas as casas se encaixavam bem no perfil, e fora que eram chatos o bastante para não querer ficar de conversinha pela comunal. Balancei a cabeça espantando os pensamentos.

Pandora... a caixa de Pandora. Definitivamente poderia ser dito que era bem dessa forma, afinal de todos os males, te garanto que eu seria o pior que você iria ter conhecido. Dei de ombros. - Na verdade tem tudo a ver com a história grega, meu pai era historiador, ou seja, viciado na mitologia grega. Sua primeira oportunidade me colocou como Pandora. - Não dizia mais que a verdade, e pensar que realmente o maior mal que chegou ao meu pai foi eu ter nascido, por minha causa sua morte viera cedo.

Respirei fundo, tentando não transparecer nada de ruim. Não queria me deixar levar pelas histórias familiares. Música, creio que a maioria dos seres viventes hoje em dia são movidos pela música, não seria diferente de mim. Amava tudo que envolvia música, e eu era uma orquestra inteira, a maioria dos instrumentos aprendi. Dobrei as pernas sobre a mesa, cruzando-as, sorri com a cara que ele fazia. - Amo música, toco basicamente todos os instrumentos. Pra mim tanto faz as matérias bruxas, sou mestiça, meu pai morreu e minha mãe não me dá bola porque é uma idiota Ministra do sei lá o que. E é isso. - Dei de ombros. Apanhei um dos cupcakes que estava ali em cima, passando o dedo na cobertura de chocolate e chupando o dedo em seguida. Simplesmente era uma chocólatra assumida.