Ah, as torres! Aquele lugar sacro e bem-iluminado, com aquele aspecto de riqueza que só se via em Durmstrang. Estava eu sentada lá, pensando na minha vida e na solidão que uma árvore deve sentir quando ouvi um barulho. Mas não um barulinho, um mega barulho, como se a torre estivesse caindo: vidros quebrando, gente gritando, risadas demoníacas e tudo mais que tinha direito.

Eu, como uma boa monitora, tinha o dever de zelar pelos outros alunos então corri escadas abaixo, procurando alguém para orientar ou alguém que também estivesse ouvindo tudo aquilo. Não tinha mais ninguém ali, mas mesmo assim ouvia risadas e um vulto rodando em volta de mim. Me agachei, protegendo a cabeça com as mãos e tateando na minha cintura a procura da minha varinha com a outra. “Qual feitiço espantaria um fantasma fanfarrão?”- pensei comigo mesma. Não era necessário um feitiço. “Pelo amor de deus, Rebecca, é só uma p. de um fantasma!” –falei comigo mesma, revirando os olhos. Que mal ele poderia me fazer, se nem força ele tem? Exatamente: nenhum. Levantei, um pouco descabelada e subi as escadas de novo.

Precisava me acalmar do pseudo-ataque, então fui para o primeiro corredor que encontrei, todo decorado com grandes e lindos vitrais de um garoto matando um dragão, um campeão do torneio tribruxo e muitos outros grandes feitos dos alunos. Uma forma se mexendo chamou a minha atenção: um quadro de um diretor de idade avançada me observava, sorrindo. Inclinei a cabeça e disse: -Fascinante, não?. O diretor do quadro só assentiu com a cabeça e depois a inclinou para o lado, indicando alguma coisa a minha direita.

Quando olhei para o lado que ele indicara, lá estava ela: linda e imponente caminhando na minha direção. Ai, o que será que eu fiz dessa vez? Será que ela viu a minha cena com o fantasma? Me senti ridícula perto da temida professora Katerine. Mas respirei fundo e ergui a cabeça: –Boa Tarde, professora!.

Me arrependi de ter nascido, existido, respirado algum dia. Me arrependi de ter dado bom dia para a Veela, já que tinha a possibilidade de ela n ter visto uma aluna com os cabelos ruivos desgrenhados conversando com um quadro. É, talvez não tivesse essa possibilidade, mas mesmo assim  eu poderia ter passado por mau educada.

Ela me perguntou o que tinha acontecido aqui e um milhão de desculpas passou pela minha cabeça: “cai da escada enquanto subia”, “fui atacada por zonzóbulos”, “tinha um ligre no jardim e eu tive que o matar antes de chegar aqui”. Mas não disse nada disso.  Tudo o que consegui dizer foi: -Bem, digamos que todos nós temos fantasmas. Mas no meu caso meu fantasma queria me enlouquecer, mas eu não deixei.. “Não por muito tempo” –completei mentalmente.-Mas me diga, o que te trouxe aqui nesse dia ensolarado, minha Veela preferida?.

Droga, droga, droga, droga! Eu deveria aprender a como deixar a minha boca fechada por mais tempo. Talvez se eu fizesse um silêncio misterioso eu poderia me safar dessa. Como explicar para a professora mais gata da escola que eu não tinha sido irônica? Como explicar que eu estava lutando contra um fantasma de verdade quando ela tinha chegado?

Respirei fundo e passei as mãos pelos cabelos, numa tentativa desesperada de ajeitá-los. Olhei para o chão enquanto a loira esperava a minha resposta, então tive um insight: -Não, não foi ironia, professora. A senhora é a única veela que eu conheço, então é claro que vai ser a preferida. Não sabia se eu tinha piorado a situação ou melhorado, mas de qualquer forma prossegui: -O que me traz aqui é a beleza desse lugar. Essa serenidade desses vitrais violentos e esse diretores sempre me ouvem e não respondem nada. Acho que deve rolar muita fofoca no mundo dos quadros a meu respeito. Lancei um olhar fulminante para a figura de um diretor que usava uma longa capa preta e uma barbicha estranhamente aparada da mesma cor que cochichava algo no ouvido de uma figura de um senhor de cabelos brancos.